sábado, 26 de fevereiro de 2011

Às Margens do Rio Sagrado

India, Banaras, 1938 - Água do rio Ganges, água da chuva; as águas se misturam às lágrimas das viuvas hindus no ashram, onde vivem juntas, separadas da família e da sociedade, prisioneiras dos costumes até o fim da vida. De acordo com a tradição dos livros sagrados só têm 3 opções após a morte do marido: casar com o irmão mais moço do falecido, se a família permitir, matar-se na pira funerária ou viver em celibato e disciplina.

Aos 8 anos, Chuyia já é viuva, embora sequer se recorde do dia do casamento. Está destinada a uma meia-vida, pois metade de sua alma foi levada pelo marido. Ela espera que a mãe venha resgatá-la da casa das viúvas, mas isso não acontece. Protegida pela incansável Shakuntala, desafiando a desagradável Madhumati, Chuyia faz amizade com Kalyani, a bela jovem que também é viuva desde a infância. Por acaso elas conhecem Narayan, jovem advogado, adepto do Mahatma Gandhi, que está prisioneiro de fato dos ingleses, mas cujas idéias voam livres pela India, entusiasmando as almas jovens na busca da verdade.
A diretora Deepa Mehta enfrentou oposição de grupos hindus fundamentalistas. Precisou encerrar as filmagens em Varanasi, devido à pressão do líder do governo em Uttar Pradesh. Quatro anos depois a produção foi retomada no Sri Lanka.

"Deepa Mehta comoveu-se com a situação precária das viúvas indianas. Segundo os censos de 2001, existem cerca de 34 milhões de viúvas neste país, a viverem em condições miseráveis, de acordo com um texto religioso que conta com mais de dois mil anos de vida.
Depois de um grupo de fundamentalistas hindus terem destruído por completo o cenário onde a realizadora estava a filmar, na Índia, Deepa Mehta recriou a cidade de Varanasi e o rio Ganjes no Sri Lanka. No elenco, conta-se com a beleza de Lisa Ray, com a super estrela de Hollywood, John Abraham, e com a sensibilidade e ternura de Sarale. Esta a criança de sete anos, nascida no Sri Lanka, descoberta por Deepa Metha, que nunca tinha actuado antes, não sabia uma palavra de indiano ou de inglês. Aprendeu as palavras foneticamente, com a ajuda de um tradutor." (Ana Rita Madruga)
"Às Margens do Rio Sagrado" é um filme belo e delicado, que emociona. Faz parte de uma trilogia, iniciada em 1996, com "Fogo" (Fire) e continuada com "Terra" (Earth), de 1998. (extraído do Blog By Star Filmes)

Transcrevi este texto pois ele dá conta com competência de contextualizar esta história.
A vontade em algumas cenas é congelar a imagem e começar as discussões sobre ideologias, tradição, fé, interesses, violência contra a mulher, a violência contra a vida humana.
Uma vez mais, e coincidentemente em três recentes filmes que vi, o suicídio se configura como uma alternativa para toda essa opressão social sofrida pelos personagens, que como nesta história, permanecem à margem.
Fiquei interessada nos outros dois da trilogia... se ver, posto depois.
Abs.  

O Cisne Negro

O tema principal da história não é novo, mas é bem trabalhado, valendo-se do cenário clássico do ballet mundial, o filme pode provocar do tédio ao apaixonamento. Cercado de competição e disputa pessoal pela perfeição no ambiente de trabalho, acaba por estabelecer uma reflexão pós-moderna desse mundo do trabalho e das expectativas profissionais, e seus alvos inatingíveis ao "empoderado", mas limitado ser.
Um drama cheio de variações das relações estabelecidas nos estornos familiar e organizacional. As doenças psicológicas que surgem dessas tensões como mais um ingrediente dessa indigesta mistura.
Não o vejo como um filme encantador, mas é um filme prá se debruçar com alguns talheres.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Lemon Tree - O limoeiro

Revi este filme depois de quase dois anos. Se tivesse que resumir sua temática com meia dúzia de palavras, diria que nos serve com maestría um suculento prato sobre direitos individuais, ou melhor dizendo, violação de direitos individuais.
A arte do cinema, como tantas outras, se utiliza de seus recursos, histórias, tecnologias, para apresentar suas ideologias, bandeiras, verdades, e, os (filmes) que são bons, nos ajudam a saboreá-los antes de simplesmente engolí-los, tais quais as pipocas que vendem à porta.  
O que poderia parecer chato, envolve. Envolve, porque toca sutilmente em questões bastante "humanas". É estranhamente normal falar como fato, de direitos humanos, direitos individuais, direitos coletivos, uma formação acadêmica denominada "Direito", e na prática, dar por primordial a verdade que serve ao interlocutor, assolando tudo o mais que estiver pela frente.
Pensar sobre isso, mover-nos entre dois pontos da história e dos direitos, é o que faz esta película.
Fico a pensar sobre o que nos pertence, ao que posso reivindicar direitos? Ironicamente o livro mais lido, crido e questionado, a Bíblia, diz sobre esta existência e seu incansável desejo de adquirir, de que "a humanidade veio do pó e ao pó tornará", e em outros cantos, declara a vaidade humana sobre o que pensa ser e ter.
O que pode ser retirado de alguém, é a pergunta que nos envereda na história. E prá quem, como indicado por especialistas da boa digestão, consegue mastigar no mínimo trinta vezes, acrescentaria a esta pergunta, o que "mais" pode ser retirado de alguém?
Este alguém, somos nós, e resta-nos saber quem ou ou que são estes limoeiros? O limoeiro, o retrato do poder instituído na representação do quadro do marido morto, que se personifica em iguais, que temem pelo direito do morto, dos mortos...
O direito morto dos vivos... um bom filme para agradáveis e intermináveis reflexões.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

O LEITOR - O Filme

Pensava hoje sobre o silêncio. O silêncio é uma fala, o que se quer dizer sem palavras, sem som, sem voz, sem gestos, sem olhar, sem toque... mas, verdadeiramente o que se quer que saiba. A presença tipificada pela ausência, o que se quer dizer pelo não dizer, o que se não faz para pronunciar o ato consumado.
Há coisas na vida que são indizíveis. A dor é uma delas.
A dor não se pode dimensionar, não se pode pesar. Não se compra dor, não se vende dor.
O Leitor dentre tudo de memorável que representa, denuncia esta mesma sensação que requer de nós uma rendição, de olhar para a dor, de tentar compreender a dor, de dimensionar a dor, de sentir a dor que essencialmente não seria nossa, mas, também nos é.
Que curiosa esta manobra de nos fazer circular por dores diversas, como se a cada um fosse atribuído o dever de sentir a dor do que é mais primitivo, do nascer.
O nascer implicado num tanto de "fazeres" e de "seres"... e as nossas escolhas e possibilidades reclusas no que se espera de mim.
Que filme intenso e profundo que trata da aceitação vinculada a apropriação de decifrar este conjunto de caracteres que se organizam e formam, constroem nossas idéias, a escrita, a leitura. Que poderiam ser significadas de muitas formas, mas que implicado no "ser" deste nascer, mata sereveramente este possibilidade de existir.
Secundário a isto, o afeto, marcado pelo silêncio, o silêncio que ironicamente diz, escreve, lê, toca, sente prazer, vive e sobrepõe tenporalmente a dor.
Quem não tem o domínio das letras silencia pela própria ausência de atribuir sentido aos formatos socialmente estabelecidos. A dor institucionaliza, que submete, que resignifica valores, verdade, justiça.
Tudo isso é poder... é dor... é silêncio.