terça-feira, 27 de julho de 2010

O Grão

Já ouviram a expressão: "Tirar leite de pedra"?, isto é O Grão.
O filme explora de um jeito pouco eficiente, uma temática interessante, que é o lidar com a morte, a preparação do outro para a morte de seu ente querido, mais ainda, a preparação de um neto para a morte de sua avó, mas que, inadvertidamente, acaba nos levando a um desejo estranho, do qual falo a seguir.
Antes de falar do "desejo estranho", destaco o contexto em que se trabalha o filme, também sem muita novidade. A vida sem perspectivas de quem vive nos sertões do país, ou prá não dizer sem perspectivas, porque, boas ou ruins, sempre há alguma, mas justamente quais são estas perspectivas: do homem que já criou seus filhos e se sente feliz em sua vida, da mulher que fica em casa e cuida dos afazeres domésticos e da sogra doente, a filha prestes a se casar com um "consertador" de bicicletas, com a promessa de irem morar na "capital", a sogra doente prestes a morrer, a criança que não sorri e não larga seu cachorro. Claro, além destes, as cabras, os bodes, a seca, a TV ligada que não explica então o porque das velas iluminando os quartos... sei lá.
O foco, é a avó doente que quer preparar o neto para sua morte. Para isso, começa a contar uma história que projeta tratar do tema morte, sua realidade, e tudo mais.
Curioso quando a história começa a ser contada e logo faz o garoto adormecer... bem, claro, a avó vai continuar no dia seguinte, e nos seguintes, a cada cochilada do garoto e até que ela morra, é óbvio.
Menos eficiente prá nos ligar à história e mais eficiente para fazer dormir, perdi parte da lenda contada pela avó... dormi também!!! e acho que acabei perdendo o melhor do filme. O estranho desejo de que falei, é a torcida prá avó morrer logo, porque o filme não conta nada além disso, e satisfeita com o que já tinha visto, queria dormir em casa.
Se comparado à Fita Branca (que me dói lembrar o tempo perdido), considero este razoável, a fotografia é boa, e??? bem acho que a fotografia é boa... é um filme prá quem quer ver algo muito além de um bom filme.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Pequeno Nicolau no Maravilhoso Mundo de Bob

Vi...
Todos os louros a este Pequeno Fabuloso Nicolau Poulain... seria equivocado compará-los, não fosse a genialidade repetida em mais esta obra prima do cinema francês. Genial, fabuloso, delicioso, quantos ¨ais¨ e ¨osos¨ seriam necessários para distinguí-lo de outros ¨ins¨ e ¨ríveis¨ que se lançam por aí?
No post anterior ¨Volver a los diecisiete¨ uma frase da canção remete bem a esta historieta... Voltar a sentir profundo como uma criança diante de Deus... é isto que o Pequeno Nicolau consegue fazer com cada um de nós.
Voltar a ser criança, voltar a sentir como criança, problematizar como criança, projetar como criança, fazer planos como criança, sorrir como criança, chorar como criança.
Na inocência de suas maiores fantasias, na maestría de seu domínio sobre o que se cria, nas respostas prontas do que se é de fato, na sua lógica sem formalismos e caminhos previstos... se visse este fabuloso Nicolau cantaria Violeta Parra quiero ¨Volver a los Siete¨, sem dúvida alguma.
Lembrei de outros pequenos como este, ¨O Maravilhoso Mundo de Bob¨, ¨Rugrats¨ ou ¨Os Anjinhos¨, personagens que me fizeram algum dia repensar meus mundos complicados, cheios de problemas, de dúvidas, incertezas, tristezas e tudo mais. Não que nestes outros não exista tudo isso, mas denunciam as elaborações sociais deste nosso mundo de ¨gente grande¨prá processos que são em sua essência bem mais simples.
Lembro-me de uma cena num episódio de Rugrats, em que uma das crianças interage com um rato, porque não conhecia um e não tinha a construção social do que significava um rato, e quando a mãe vê a criança com o rato, grita e se assombra com a possibilidade de que seu filho toque aquele rato, socialmente sujo, etc... etc...
Pois é... quem são estes ratos que nos ensinaram a ver como sujos, e socialmente repugnantes.
Um rato é só um rato até que nos digam o que mais ele é.
Um brinde ao Pequeno Nicolau que nos dá a chance, assim como Bob e Rugrats, de vermos a vida, as pessoas e os ratos, com olhos menos cansados, com olhos de ¨poucos anos¨... brindemos com leitinho e suco de uva... rsss

domingo, 11 de julho de 2010

Volver a los Diecisiete

Ouvi...

Voltar aos dezessete depois de viver um século
É como decifrar signos sem ser sábio competente
Voltar para subitamente, ser tão frágil como um segundo
Voltar a sentir profundo como uma criança diante de Deus
Isso é o que eu sinto neste momento fecundo.
(Tradução livre de Violeta Parra - Volver a los Diecisiete)

Que foi que fiz ou não fiz simplesmente... que momento fecundo, que me faz deparar com tão pouco.
Aos dezessete, aos vinte, aos vinte e três, aos trinta, e tantos mais, e eu nada fiz...
Terá valido algo, terá?
Agora a memória me trai, há de ter havido algo bom, há ter valido algo, há de ter valido por um momento só, mas algo há, algo há que há valido a pena.
Lembrar é o que conta, mas se não lembro eu, alguém lembrará, se não valeu por mim, há de ter valido para alguém, há de ter valido.
Volver não faz sentir melhor, pior sem fim, os horrores das dores que já passei, não quero mais, muito embora, muitas delas cá estão.
Aos dez talvez, não sei mais, antes ainda, terá valido algum dia.
A dor que não vai, que nunca vai, apegada a vida como alguém que dela depende, que sente junto, que sente igual, tal dor, tal vida, tal qual le toma pela mano, le sigue por la calle, le sigue por la ruta, le sigue por el cendero, le sigue para siempre.
Um sopro, isso é tudo, tão pouco é tão tudo. Tudo é muita coisa, tudo é tudo.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O Nada


Se não há corpo, não há morto, se não há morto, não há crime, se não há crime, não há pecado, sem pecado, não há perdão, se não há perdão, não há corpo, se não há corpo, não há nada. Se não há som, não há música, sem música, não há melodia, sem melodia, faltam notas, sem notas, há vazio, no vazio, há eco, no eco há vazio, no vazio sou o nada. Sem sol, não há luz, sem luz, não há clareza, sem clareza, há confusão, na confusão há incertezas, nas incertezas há tropeços, nos tropeços, vem as quedas, nas quedas há dor, na dor há escuridão, na escuridão não há luz, se não há luz, não há nada. Se não há graça, não há virtude, sem virtude, não há dádiva, sem dádiva, não há presente, sem presente, não há riso, sem riso, não há gozo, sem gozo, não há glória, se não há glória, não há vitória, sem vitória, não há graça, se não há graça, não há nada. No nada não há vida, se não há vida, há um morto, se há um morto, onde está o corpo? O corpo de muitas faces, o corpo de muitas delas, o corpo de muitas ditas, já ditas, graças, glórias, vitórias, benditas, benditas em cada uma, benditas em todas elas. Se não há eu, não há corpo, se não há corpo não há morto, se não há morto não há nada.