sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A Pele Que Habito

Depois de longo recesso "blogário", resolvi imergir na recente obra, e mais provocadora que nunca, de Almodóvar.
Resisti a princípio a ver a película, certa de que muito se faria necessário para digerir um filme com este nome, mesmo sem ler a sinopse, sabia que haveria algo de horror, e sempre numa linguagem que evidencia nossa latente identificação, e consequente sofrimento por isso.
Como outros dramas de Almodóvar, mantém-se as tríades, joguinhos de personagens que se cruzam, se encontram, se desencontram, desta vez, ainda mais surpreendente.
Com um tema amplo e profundo, vejo a sexualidade humana em questão.
Minha leitura de Almodóvar, é que em sua genialidade tenta provocar em quem vê seus filmes a experiência que não nos pertence plenamente. Explico: se alguém nos dissesse, como é possível compreender algo que não sabemos? como podemos saber algo que não somos? e como ser o que não nos pertence ser? afinal, como é ser algo que não é você mesmo? Já se imaginou sendo algo além de si? já se imaginou sendo uma gaivota? um cão? um porco? um gênio? uma joaninha? uma parede? E como então, experimentar algo que é tão alheio à nós? e como pela experiência fazer-nos saber, e por conseguinte compreender este "algo" além de nós mesmos? Pois é isso que faz Almodóvar neste filme, numa imersão inusitada a "algo" que supostamente não nos pertence, mas significativamente é tão profundamente "nós mesmos".
Quando alguém não conhece um sabor, tentamos levá-la a experiência de saber por aproximação, ora "isto" se parece com "aquilo", daí por este caminho simples de comparação, entendemos e experimentamos este sabor desconhecido.
A Pele Que Habito faz exatamente este caminho, ele nos conduz à uma experiência "inexperienciável", num percurso que reporta às nossas realidades, e torna este "algo" estranho em experiência compreensível. Contudo, não furta de nós a capacidade de enxergarmos as sombras que tão bem nos representam nessa história, de tudo há, dor, aprisionamento, sofrimento, desejo, prazer, vida, morte, os instintos mais primitivos e assombrosos que lá habitam este nosso, indenominável ser.
Por isso, por sua intensidade, o prefiro chamar de ALMAdóvar... este é imperdível.
        

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Uma doce mentira

"Uma doce mentira" é uma comédia francesa divertidíssima, que corresponde às expectativas.
Emillie é uma cabeleireira empreendedora que, na tentativa de aliviar o sofrimento da mãe, acaba provocando uma série de equívocos e incidentes, que tornam o filme hilariante.
É um filme que se propõe a fazer rir e é bem sucedido em sua proposta.
Recomendo.

Minhas Tardes com Margueritte

"Minhas tardes com Margueritte" tem a delicadeza que a própria imagem apresenta...
Um filme delicado, que permite recuperar na memória a docilidade de uma amizade desinteressada, sincera, única, verdadeira, que está além da utilidade ou da necessidade, tão presentes nos tempos modernos.
Gerard Depardieu interpreta, com a esperada competência, um homem de seus 50 anos, aparentemente rude e ignorante, um quase "ogro" que é descoberto pela delicada Margueritte, uma senhora de 95 anos, que vive num asilo, pago pelo sobrinho, e aproveita suas tardes para ler no parque e "contar" pombos.
O filme também trata de hostilidade familiar, que gera uma reflexão interessante, quanto aos motivos que nos movem nestas relações, e os afetos nem sempre manifestos.
Recomendo muitíssimo, sobretudo é um filme gostoso de se ver.


domingo, 15 de maio de 2011

Homens e Deuses

E um filme que vale a pena ser visto. 
Trata de um fato histórico ocorrido na Argélia em 96, quando um grupo de monges católicos franceses do Mosteiro da região de Atlas, são feitos reféns e mortos por um grupo fundamentalista islâmico.
Numa morte anunciada que não foge ao fato, o filme transcorre apresentando o cotidiano do grupo de religiosos, que envolve os cantos, as orações e o auxílio médico prestado à população carente da comunidade onde está inserido o mosteiro.
Curiosamente o diretor do filme consegue apresentar de maneira suave os diversos aspectos e posicionamentos ideológicos que envolvem a cena final: as questões políticas da região, a corrupção, a exploração francesa na Argélia, a missão clériga, a ideologia dos chamados "terroristas", a figura opressora do exército local.
Longe de se apresentar numa história maniqueísta, é simplesmente um contado de posições certas ou erradas, próprias ou coletivas, onde não se elegem heróis ou bandidos.
Recomendo.


Ficha técnica

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Decisão do STF



Li o texto que segue abaixo e achei de uma clareza e objetividade, que resolvi "repostá-la" neste espaço. Repostando do blog http://blogdobento.blogspot.com .


"O que mudou com o reconhecimento oficial do que já existe? Pra mim, nada.

Eu nunca tive tesão por outro homem... Pode ser legal, agora, mas pra mim, não muda nada.

Muda para aqueles que abriram mão de pensar e acham que podem virar gays a qualquer instante... Os antigays se parecem muito com aqueles caras de Brokeback Mountain... "tá frio... a gente tá sozinho aqui... vamos transar?" rsrs

Ou seja, os antigays parece que vivem se coçando pra transar com os gays, por isso lutam pra que a coisa não fique legal, pois, se ficar legal, a coceira vai vencê-los... rsrsrs

Eu ficaria preocupado e teria lutado contra se a Lei fosse me obrigar a ser homossexual. Aí, eu esbravejaria e, se passassem tal Lei aqui, eu mudaria de país.

Mas, me diga, seriamente, a Lei aprovada agora obriga você a ser gay? Não? Então, qual é o problema? Você quer mandar nos órgãos sexuais dos outros? Saiba, nos meus mando eu -- e eles só gostam de mulher.

Ah, por favor, pare com a hipocrisia. Acabe com essa história de que "vai ser horrível para as crianças que eles agora poderão adotar". Por que vocês não adotaram todas as crianças abandonadas, antes? Ou seja, as crianças continuarem sem um lar, abandonadas, nunca foi um problema para vocês. Problema é se os gays derem a elas o lar que vocês se recusaram a dar? Ou são os gays que abandonam suas crianças em latas de lixo?

Você acha que os gays vão influenciar, com o exemplo, os filhos adotados a serem gays? Ora, então, por que o exemplo dos héteros não surtiu o mesmo efeito? Afinal, os gays são filhos de héteros e tiveram pais héteros como exemplo.

Ah, isso é contra a sua fé? Ora, a fé é sua. Eu não quero ser obrigado a obedecer a sua fé. Por que obrigaria outros a obedecer a minha?

Isso é contra a Lei de Deus? Ora, os ministros do Supremo não são Aiatolás e nem Papas. Eles julgam apenas o que é Constitucional. E eles já julgaram. " Bento Souto

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Contra Corrente

Algumas vezes eu utilizei uma imagem prá tentar figurar algumas tentativas humanas de seguir contra as imposições, crenças, valores de uma cultura, que era pensar-se tentando entrar (ou sair) de um trem do Metrô (na Sé-SP, por exemplo) em horário de pico, contra o fluxo das pessoas. Inadivertidamente, esta pessoa será arremessada de volta, numa tentativa frustrada de avançar.
Contra Corrente é justamente isso, uma figura de linguagem. Não se trata de um filme que se “lê” com os olhos, ou com o conhecimento, ou com as crenças, aliás esta última precisa ser rechaçada, pois afinal, não é absolutamente disso que o filme quer falar.
Devemos sentir o filme, demorei um pouco prá processar a informação, mas que bom que ela veio, mas veio a duras penas, doendo por dentro.
Fundamentalmente o filme trata de preconceito. Se quisermos vê-lo com expectativas quanto as relações afetivas, amor, amizade, traição, “armários”, crenças, ele renderá poucas discussões, ou quase nenhuma, um conteúdo pobre. O foco rico é o preconceito. São as impressões e os sentimentos que se instalam socialmente a partir desta experiência.
A máxima é sem dúvida a invisibilidade social à qual são “empurrados” os que estão à esta margem da aceitação e tolerância, aspectos como o aprisionamento aos quais estão destinados estes “diferentes”, o "peso de carregar" esta admissão, além dos clássicos, abandono, indiferença, agressividade, deboche e tudo mais.
É um filme que pode demorar a processar, mas prá quem experimenta ou já experimentou isso, saberá do que estou falando.  


Produção: Peru, Colombia, França e Alemanha
Ano: 2010
http://www.contracorrientelapelicula.com

quinta-feira, 10 de março de 2011

Incêndios

Um filme de produção canadense e francesa, falado em francês e rodado, a maior parte do tempo no Líbano, aspectos que por si só já tem garantido excelentes filmes.
Com este não é diferente. A garantia de ter visto um excelente filme é certa.
A história é contada em dois tempos, num intervalo aproximado de 20 anos. Uma mãe solteira e viúva (isso mesmo), que ao morrer deixa em seu testamento pedidos inusitados aos filhos gêmeos. Duas cartas que devem ser entregues, uma ao pai que era dado como morto, e outra a um outro filho que tinha sua existência ignorada.
Numa viagem que leva às origens natais desta mãe, os filhos farão descobertas difíceis sobre a mãe e a origem deles próprios, num desfecho final dos mais surpreendentes e fantásticos que já vi.
Os temas tratados percorrem o radicalismo religioso, guerra entre cristãos e muçulmanos, violência contra a mulher, estupro.
Este filme me fez lembrar um depoimento do filme "Que bom te ver viva" que, num monólogo brilhante de Irene Ravache, resgata a história de mulheres militantes de partidos de esquerda, vitimadas no período da ditadura militar brasileira, e que relatam as marcas deixadas pela violência sofrida.
Num desses depoimentos uma das mulheres, menciona a gravidez que lhe deu forças para superar todos os danos causados pelos anos de aprisionamento, dizia que o maior barato que a gravidez lhe proporcionou foi de perceber as diferenças entre a mulher e o homem, porque enquanto a barriga do homem só produz côcô, a barriga da mulher produz vida.
Essa foi uma sacada incrível de quem precisava dessa convicção para sobreviver, e este filme também conduz prá algo parecido. É um filme de detalhes, sutilezas, que como um jogo de montar, vai se encaixando bem devagar. O próprio título do filme, terá seu sentido desvendado na história, o fogo que consome, mas também purifica.
Recomendadíssimo.


  • País / Ano: Canadá/França / 2010
  • Duração: 130 minutos
  • Direção: Denis Villeneuve
  • Elenco: Melissa Désormeaux-Poulin, Maxim Gaudette, Lubna Azabal

sábado, 5 de março de 2011

Piaf - Um Hino ao Amor

A irresistível dor de existir. A dor que atravessa o físico, ignora os sentidos, atenua a pior das perdas. Vem por dentro, não escolhe lugar, invade, arrebata, arranca as certezas mais fincadas, segmenta valores. É instantânea e interminável. Seca, assombra, manipula, devasta, existe, e quer ser sentida, experimentada e amada. 
Quero cantar a vida que me persegue e a morte que me é inerente, cada vez mais próxima e mais real...


Não, Eu Não Me Arrependo de Nada


Não! Nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal - isso tudo tanto faz! 


Não, nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Está pago, varrido, esquecido
Não me importa o passado! 


Com minhas lembranças
Acendi o fogo 
Minhas mágoas, meus prazeres
Não preciso mais deles!


Varridos os amores
E todos os seus temores 
Varridos para sempre
Recomeço do zero.


Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...!
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, isso tudo tanto faz! 
Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...
Pois, minha vida, pois, minhas alegrias
Hoje, começam com você!


tradução de: Non, Je Ne Regrette Rien

Composição: Michel Vaucaire / Charles Dumont

Caramelo (DVD)

Sem dúvida, um dos mais belos filmes sobre mulheres que já assisti. De uma sensibilidade notável, foi dirigido e estrelado pela atriz libanesa, belíssima, Nadine Labaki. Uma produção francesa e libanesa de 2007. Rodado na cidade de Beirute, apresenta a história de cinco mulheres que tem suas vidas cruzadas no salão de beleza Si Belle: Layale (Nadine Labaki), amante de um homem casado e que sonha com o dia em que ele se separará; Nisrine (Yasmine Elmasri), que está prestes a se casar mas não é mais virgem e não sabe como contar isto ao noivo; Rima (Joanna Moukarzel), que sente atração por mulheres; Jamale (Gisèle Aouad), que tem medo de envelhecer; e Rose (Sihame Haddad), que abriu mão de sua vida para cuidar da irmã mais velha.
Além delas, algumas outras mulheres são sutilmente inseridas na história, desvelando este universo que não é só feminino, em suas questões mais diversas, mas também únicas, da beleza, do afeto, do casamento, da maternidade, da traição, do amor em todas as fases da vida, do sexo.
Em suas histórias que são banhadas de sensualidade, regras, religião, vida e morte, é impossível não nos encontrarmos em algumas delas, deslizam também interpretações agradáveis, numa música que embala.
Um filme gostoso de se ver, que remete a uma série de reflexões sobre as relações afetivas, familiares, sociais. Um filme que faz olhar prá si sem perder o outro. Maravilhoso.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O Discurso do Rei

Algumas coisas me são curiosamente interessantes. Interessantes para pararmos e atentarmos para a especificidade e a unicidade destas coisas. Um dos meus maiores prazeres, e que me permite experienciar estas "coisas curiosamente interessantes", são os quebra-cabeças. Em meio ao caos de peças desmontadas e desconectadas, destaca-se como "coisa curiosamente interessante" a peça que se permite encontrar e fazer par com outra igualmente e perdida e encontrada.
Este encaixe de expectativas e perspectivas que se revela com a naturalidade do óbvio.
Bem, esta introdução prá falar do "Discurso de um Rei", o filme premiado com alguns Oscar's, e que mesmo sem a genialidade prometida pela premiação, me tocou neste aspecto, na "coisa curiosamente interessante".
Talvez porque o filme não trate do óbvio, do então esperado e reverenciado, mas trate do que se esconde e que por vezes é tão pouco importante.
As peças de um quebra-cabeça são todas igualmente importantes, a cada momento cada uma delas ocupará o seu espaço, valerá pelo simples fato de estar lá, para o seu propósito, e servirá com a precisão de algo que já existiu daquele jeito e que por isso, retornará a este estado.
"O Discurso de um Rei" me tocou justamente no aspecto que reconstitui este estado de seres igualmente importantes, nem mais nem menos, sobrepostas, encaixadas, doando e recebendo ao mesmo tempo, como deve ser nas nossas relações.
A fraqueza que não precisa ser encoberta... ao menos, não para todos, não o tempo todo.
Prá mim é curiosamente interessante perceber as conquistas pessoais, sejam elas quais forem, são igualmente conquistas. Terão a importância de uma conquista, e cada qual poderá medir para si este valor. É delicioso vibrar com a conquista que não é nossa, ou talvez e melhor dizendo, não é "somente" nossa.
Este é um filme simples, que merece um olhar simples.  

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Às Margens do Rio Sagrado

India, Banaras, 1938 - Água do rio Ganges, água da chuva; as águas se misturam às lágrimas das viuvas hindus no ashram, onde vivem juntas, separadas da família e da sociedade, prisioneiras dos costumes até o fim da vida. De acordo com a tradição dos livros sagrados só têm 3 opções após a morte do marido: casar com o irmão mais moço do falecido, se a família permitir, matar-se na pira funerária ou viver em celibato e disciplina.

Aos 8 anos, Chuyia já é viuva, embora sequer se recorde do dia do casamento. Está destinada a uma meia-vida, pois metade de sua alma foi levada pelo marido. Ela espera que a mãe venha resgatá-la da casa das viúvas, mas isso não acontece. Protegida pela incansável Shakuntala, desafiando a desagradável Madhumati, Chuyia faz amizade com Kalyani, a bela jovem que também é viuva desde a infância. Por acaso elas conhecem Narayan, jovem advogado, adepto do Mahatma Gandhi, que está prisioneiro de fato dos ingleses, mas cujas idéias voam livres pela India, entusiasmando as almas jovens na busca da verdade.
A diretora Deepa Mehta enfrentou oposição de grupos hindus fundamentalistas. Precisou encerrar as filmagens em Varanasi, devido à pressão do líder do governo em Uttar Pradesh. Quatro anos depois a produção foi retomada no Sri Lanka.

"Deepa Mehta comoveu-se com a situação precária das viúvas indianas. Segundo os censos de 2001, existem cerca de 34 milhões de viúvas neste país, a viverem em condições miseráveis, de acordo com um texto religioso que conta com mais de dois mil anos de vida.
Depois de um grupo de fundamentalistas hindus terem destruído por completo o cenário onde a realizadora estava a filmar, na Índia, Deepa Mehta recriou a cidade de Varanasi e o rio Ganjes no Sri Lanka. No elenco, conta-se com a beleza de Lisa Ray, com a super estrela de Hollywood, John Abraham, e com a sensibilidade e ternura de Sarale. Esta a criança de sete anos, nascida no Sri Lanka, descoberta por Deepa Metha, que nunca tinha actuado antes, não sabia uma palavra de indiano ou de inglês. Aprendeu as palavras foneticamente, com a ajuda de um tradutor." (Ana Rita Madruga)
"Às Margens do Rio Sagrado" é um filme belo e delicado, que emociona. Faz parte de uma trilogia, iniciada em 1996, com "Fogo" (Fire) e continuada com "Terra" (Earth), de 1998. (extraído do Blog By Star Filmes)

Transcrevi este texto pois ele dá conta com competência de contextualizar esta história.
A vontade em algumas cenas é congelar a imagem e começar as discussões sobre ideologias, tradição, fé, interesses, violência contra a mulher, a violência contra a vida humana.
Uma vez mais, e coincidentemente em três recentes filmes que vi, o suicídio se configura como uma alternativa para toda essa opressão social sofrida pelos personagens, que como nesta história, permanecem à margem.
Fiquei interessada nos outros dois da trilogia... se ver, posto depois.
Abs.  

O Cisne Negro

O tema principal da história não é novo, mas é bem trabalhado, valendo-se do cenário clássico do ballet mundial, o filme pode provocar do tédio ao apaixonamento. Cercado de competição e disputa pessoal pela perfeição no ambiente de trabalho, acaba por estabelecer uma reflexão pós-moderna desse mundo do trabalho e das expectativas profissionais, e seus alvos inatingíveis ao "empoderado", mas limitado ser.
Um drama cheio de variações das relações estabelecidas nos estornos familiar e organizacional. As doenças psicológicas que surgem dessas tensões como mais um ingrediente dessa indigesta mistura.
Não o vejo como um filme encantador, mas é um filme prá se debruçar com alguns talheres.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Lemon Tree - O limoeiro

Revi este filme depois de quase dois anos. Se tivesse que resumir sua temática com meia dúzia de palavras, diria que nos serve com maestría um suculento prato sobre direitos individuais, ou melhor dizendo, violação de direitos individuais.
A arte do cinema, como tantas outras, se utiliza de seus recursos, histórias, tecnologias, para apresentar suas ideologias, bandeiras, verdades, e, os (filmes) que são bons, nos ajudam a saboreá-los antes de simplesmente engolí-los, tais quais as pipocas que vendem à porta.  
O que poderia parecer chato, envolve. Envolve, porque toca sutilmente em questões bastante "humanas". É estranhamente normal falar como fato, de direitos humanos, direitos individuais, direitos coletivos, uma formação acadêmica denominada "Direito", e na prática, dar por primordial a verdade que serve ao interlocutor, assolando tudo o mais que estiver pela frente.
Pensar sobre isso, mover-nos entre dois pontos da história e dos direitos, é o que faz esta película.
Fico a pensar sobre o que nos pertence, ao que posso reivindicar direitos? Ironicamente o livro mais lido, crido e questionado, a Bíblia, diz sobre esta existência e seu incansável desejo de adquirir, de que "a humanidade veio do pó e ao pó tornará", e em outros cantos, declara a vaidade humana sobre o que pensa ser e ter.
O que pode ser retirado de alguém, é a pergunta que nos envereda na história. E prá quem, como indicado por especialistas da boa digestão, consegue mastigar no mínimo trinta vezes, acrescentaria a esta pergunta, o que "mais" pode ser retirado de alguém?
Este alguém, somos nós, e resta-nos saber quem ou ou que são estes limoeiros? O limoeiro, o retrato do poder instituído na representação do quadro do marido morto, que se personifica em iguais, que temem pelo direito do morto, dos mortos...
O direito morto dos vivos... um bom filme para agradáveis e intermináveis reflexões.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

O LEITOR - O Filme

Pensava hoje sobre o silêncio. O silêncio é uma fala, o que se quer dizer sem palavras, sem som, sem voz, sem gestos, sem olhar, sem toque... mas, verdadeiramente o que se quer que saiba. A presença tipificada pela ausência, o que se quer dizer pelo não dizer, o que se não faz para pronunciar o ato consumado.
Há coisas na vida que são indizíveis. A dor é uma delas.
A dor não se pode dimensionar, não se pode pesar. Não se compra dor, não se vende dor.
O Leitor dentre tudo de memorável que representa, denuncia esta mesma sensação que requer de nós uma rendição, de olhar para a dor, de tentar compreender a dor, de dimensionar a dor, de sentir a dor que essencialmente não seria nossa, mas, também nos é.
Que curiosa esta manobra de nos fazer circular por dores diversas, como se a cada um fosse atribuído o dever de sentir a dor do que é mais primitivo, do nascer.
O nascer implicado num tanto de "fazeres" e de "seres"... e as nossas escolhas e possibilidades reclusas no que se espera de mim.
Que filme intenso e profundo que trata da aceitação vinculada a apropriação de decifrar este conjunto de caracteres que se organizam e formam, constroem nossas idéias, a escrita, a leitura. Que poderiam ser significadas de muitas formas, mas que implicado no "ser" deste nascer, mata sereveramente este possibilidade de existir.
Secundário a isto, o afeto, marcado pelo silêncio, o silêncio que ironicamente diz, escreve, lê, toca, sente prazer, vive e sobrepõe tenporalmente a dor.
Quem não tem o domínio das letras silencia pela própria ausência de atribuir sentido aos formatos socialmente estabelecidos. A dor institucionaliza, que submete, que resignifica valores, verdade, justiça.
Tudo isso é poder... é dor... é silêncio.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Árvore - Filme

Com profundo pesar pelo anúncio do fechamento do Cine Belas Artes, fui ver hoje um desses filmes que só passa lá, e que por isso torna aquele lugar tão especial.
Um filme australiano, que passou na Mostra Internacional, e que infelizmente, como outros tantos bons filmes europeus, asiáticos e latinos, não tem espaço no circuito comercial das salas paulistanas.
Uma história charmosa que me levou a, muito propositadamente, pensar neste meu momento. Uma família, marido, esposa e quatro filhos, vivendo numa bela casa, ladeada por uma imensa árvore (a que dá título ao filme). O marido morre e então os dramas da família, de perda de marido e pai, vão sendo narrados ao redor desta grande árvore.
Os simbolismos representados pela árvore são os mais diversos, das fantasias construídas nesta figura que se configurará na prisão e na libertação de cada um.
O romper implica por vezes em perdas, em abrir mão de algo por alguma coisa. Certas situações podem realmente parecer-se com um ciclone, que arranca as raízes que precisam se desprender "deste" lugar para dar a liberdade necessária...
Quem conhece as histórias entenderá... vejam o filme, vale a pena.