terça-feira, 6 de julho de 2010

O Nada


Se não há corpo, não há morto, se não há morto, não há crime, se não há crime, não há pecado, sem pecado, não há perdão, se não há perdão, não há corpo, se não há corpo, não há nada. Se não há som, não há música, sem música, não há melodia, sem melodia, faltam notas, sem notas, há vazio, no vazio, há eco, no eco há vazio, no vazio sou o nada. Sem sol, não há luz, sem luz, não há clareza, sem clareza, há confusão, na confusão há incertezas, nas incertezas há tropeços, nos tropeços, vem as quedas, nas quedas há dor, na dor há escuridão, na escuridão não há luz, se não há luz, não há nada. Se não há graça, não há virtude, sem virtude, não há dádiva, sem dádiva, não há presente, sem presente, não há riso, sem riso, não há gozo, sem gozo, não há glória, se não há glória, não há vitória, sem vitória, não há graça, se não há graça, não há nada. No nada não há vida, se não há vida, há um morto, se há um morto, onde está o corpo? O corpo de muitas faces, o corpo de muitas delas, o corpo de muitas ditas, já ditas, graças, glórias, vitórias, benditas, benditas em cada uma, benditas em todas elas. Se não há eu, não há corpo, se não há corpo não há morto, se não há morto não há nada.

3 comentários:

  1. A realidade torna-se o ponto de partida de sua poesia certa de que o efêmero não pode dar respostas totalmente válidas. Amei...

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  2. Lembrei de Alberto Caeiro
    "Quando vier a Primavera,
    Se eu já estiver morto,
    As flores florirão da mesma maneira
    E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
    A realidade não precisa de mim.
    Sinto uma alegria enorme
    Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma."

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  3. Amei a poesia... adoro a primavera... chego lá...

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