sábado, 11 de setembro de 2010

ONDE VOCÊ ESTAVA EM 11 DE SETEMBRO DE 2001?


Nos últimos tempos tenho escrito pouco, se por falta de inspiração, não sei, se por falta de vocação, não sei, se por falta de devoção, não sei. Fato é que hoje me senti ambiguamente mobilizada a escrever. Seja pelo óbvio de tratar de um episódio que, neste novo século, é sem dúvida dos mais degradantes e marcantes. Seja pelo óbvio de tratar de um episódio que, aquém deste século, motivou um incontrolável desejo de vingança, matança, esperança e desesperança, que também toca nossos intocáveis instintos primitivos.
Certamente todos nós já respondemos por inúmeras vezes a pergunta título deste texto, e isto do mais profundo de nossas cavernas mentais, sai com uma satisfação imensa de conexão com a história, com esta humanidade, com a dor ou prazer alheios (que desastroso dizer isso!!!).
Avenida Paulista, tomando um lanche antes de encontrar com um grupo de adolescentes para uma visita cultural. Mas o que é aquilo na TV? O que está acontecendo? Nem dei conta da dimensão dos fatos. Hoje pergunto, porque não me aprofundei um tanto mais naquelas imagens que marcariam ainda mais meus minutos de vida daquele dia?... me lembraria ainda se houvesse conversado com alguém sobre aquilo, alguém que já conhecesse as tais torres e me contasse de sua viagem e seus passeios... me lembraria de alguém chorando por algum parente ou amigo imigrante que estivesse por lá... mas não, não me dei conta da dimensão do fato ... tornei meus minutos inglórios, tomei meu suco e fui embora .
Remida por não sermos nós os diretamente agredidos naquele dia, segui meu destino permitido a partir de então, sofrendo ou gozando sobre a dor do outro (novamente desastroso repetir isso!).
De tudo o que foi produzido e construído sobre este fato nestes 09 anos e, avidamente consumido por todos nós, quero falar desta imagem, que por incrível que pareça só vi ontem.
Conhecida como "O Homem em Queda", esta imagem já traz em seu título um roteiro, que é coletivo, mas que pode ser também muito particular. O que fundamentalmente está caindo? QUEM está, fundamentalmente caindo? Cair é bom ou mal? Que escolha é esta que este alguém teve que tomar?
As nossas identificações, manifestas e públicas, dão-se com personagens vitoriosos, bem- sucedidos, heróis, vencedores legítimos... pouco provavelmente com quem salta de um prédio para a morte. O que nos vem, o que me veio, foi de pronto... que desespero, que limite, que loucura, que horrível.
Mas, como transformar dor em benção não é humano, quiçá divino, transferi-me para um outro ponto de um outro olhar. Neste documentário que vi, a provável parente do homem que salta, "prefere" olhar com otimismo este salto. Diz ela em suas palavras, aqui rebuscadas (de re-buscar na memória) que ele poderia esperar a morte, ele poderia ficar parado e não decidir sobre sua vida e história. Poderia ficar lá e jamais ser encontrado, poderia ficar lá e ser mais um, ou menos um. No entanto, ele decidiu, ele saltou, ele agiu sobre sua escolha e vontade, ele agiu sobre sua vida. Talvez como muitos de nossos atos, saltar daquele prédio em chamas, foi um ato de coragem, de decisão, de escolha, de morte por certo, mas um ato, fundamentalmente de vida, por menos que isso possa parecer.
Como a irmã do moço, eu "prefiro" também enxergar isso, ao menos dessa vez, ao menos por hoje.

Créditos da Foto: fotojornalista Tom Junod

Um comentário:

  1. Vendo este post eu me lembrei no dia estava entre um atendimento e outro em Cascavel-PR,fiquei vidrado na tv e depois não tínhamos onde nos esconder para nos ver livres dos discursos pré-fabricados dos noticiários sobre os atentados terroristas. Hoje neste post vi a possibilidade combater a violência através de poesia, lógico que para falar disso hoje só sendo assim ...
    valeu Dalva

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