quinta-feira, 11 de novembro de 2010

José e Pilar

Tenho prá mim agora talvez o maior dos desafios neste espaço que me propus preencher com idéias que me laçam do lugar comum, me lançando às virtudes de criar. Qual não é este intento senão falar de José e Pilar. Hoje por fim chorei Saramago. O luto tardio da perda negada, me fez sentir num tanto só, toda a dor por alguém que silenciou. Talvez isto fizesse sentido com qualquer outro, mas não com este José. O José de Pilar, que no seu jeito único de expressar, significou como ele só sentimentos não ditos, malditos talvez, benditos por certo, significou os sentidos que contrariam os pontos e vírgulas de todos mais. A coragem de dizer o que se pensa, no que se crê, no que não crê, na certeza de dizê-lo a pessoa certa, no tempo que se quer, a quem quer, a quem crê, a quem não crê. O tempo que lhe faltou, que lhe precisou e lhe tomou prá si, o tempo que levou de nós a alma gentil de um homem que amou, viveu, que deu de si às artes, e que impregnou do mais intenso significado um jeito saramaguês de escrever. Por isso, não este José, não há como silenciar este José, que no seu texto corrido expressa as passadas de alguém que não temia avançar, eliminava os obstáculos do seu próprio modo, seguindo sem medos, sem paradas, sem tempo a perder, convicto, certeiro, objetivo, o próprio. Um filme emocionante, que trata de serenidade, sinceridade, feminismo, cumplicidade e amor, de inteligência sobretudo. Do amor que não banaliza o seu real significado, que preza pela figura que não é sombra, que é Pilar, que é O Pilar, a PilarPilar Del Río, que cruza com José Saramago nas ruas de Portugal, nas ruas da própria vida. No ponto exato do beijo que não pode ser retido, do encontro enamorado que me valerá meu tempo. Das frases inúmeras e da figura apaixonante que é José Saramago fico com a cena em que mostra sua humanidade ao ver nas telas a personificação de sua obra "Ensaio sobre a cegueira". Na pele de um mortal, José chora e se emociona lembrando do que lhe ocorreu durante a criação de sua obra magna.
Alheia às críticas de José às deidades, o filme é divino, José o era.
Vejam e vejam e vejam...

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