quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Minhas Mães e Meu Pai

Nos últimos tempos antes de ver um filme americano penso milhares de vezes, e na maioria das vezes opto por ver outra coisa. Xenofobismos à parte, as produções americanas holywoodianas ou de pretensão menor, empunham bandeiras, modismos, valores ultrapassados, que refletem pouco o que de fato as pessoas querem ver e discutir. Ensimesmados com suas preocupações que são suas próprias (a redundância é proposital), deixamos de apreciar o que de bom a sétima arte nos tem a oferecer.
A vez anterior em que me arrisquei a ver um filme desses que, sei lá como entram no circuito comercial, vi um filme recheado de valores heteronormativos um tanto sutis, mas muito presentes. O filme nas suas "entrecenas" mostrava a família nuclear perfeita, hétero, com um casal de filhos, feliz e bem sucedida. Até que surge no caminho da esposa uma prostituta lésbica, que "seduz" a esposa indefesa e quase destrói a relação perfeita. Lá pelas tantas aparece morta, com claro indício de haver sido eliminada pela esposa, que num tom de reparação, salvou sua família. Final feliz: família hetero mantida, lésbica-puta-paranóica morta.
Os exageros, são por minha conta... é tanto que até esqueci o nome do filme.
Ontem em plenos pulmões para assistir "Quarto em Roma", a pré-estréia de um filme europeu, dei-me com a placa no guichê "ingressos esgotados". Sem tempo prá chorar e tentando garantir a diversão da noite me aventurei na sala com o título "Minhas Mães e Meu Pai". Tinha lido a sinopse noutro dia e sinceramente, se fosse argentino entraria mais confiante na sala.
O filme começa e termina com um humorzinho de sessão da tarde, mas que nas tais "entrecenas" destila porções maciças de preconceito, de heteronormatividades e de sarcasmo sobre as relações homoafetivas.
Num resumo breve brevíssimo, o tema é sobre a família de duas mulheres casadas há 20 e tantos anos que tem dois filhos, cada um gerado por uma delas, a partir da doação de esperma de um mesmo homem. O pai aparece na história quase de páraquedas, charmoso, desapegado, garanhão, decide "comer" uma das mães, que gosta é claro, e atende ao desejo carnal do então pai de seu filho. A outra mãe, desgostosa pela traição e invasão deste pai em sua família, "mija" nos quatro cantos da tela, chora, esperneia, fala grosso e marca seu território, é o "macho" do casal.
As sutilezas são muitas, os vídeos pôrnos gays que aparecem como "o vídeo de cabeceira" para excitar o casal, os brinquedos sexuais satirizados pelo amigo do filho que descobre o objeto mexendo nas gavetas das mães, a mulher lésbica que pode precisar ser "comida" por um homem prá se sentir valorizada.
O mote que poderia ser pensar uma nova configuração familiar, acaba por, de modo bastante preconceituoso, apontar uma configuração numa circunstância de descontrução, à semelhança de referencias heteros vulneráveis, que não são a regra das famílias universais.
Tratar das dificuldades que são reais nas relações familiares neste tipo de filme, é quase como querer inventar a roda, por isso, só consegui enxergar no filme suas sutilezas.
As gargalhadas vem com um tanto de indignação também. O final talvez marque este conjunto da obra pobre, o casal em vias de reatar, no carro no caminho de casa, são encorajadas pelo filho que diz a razão pela qual elas não deveriam se separar: "Porque elas são velhas demais". Não porque se amam, não porque tem uma história juntas, não porque seria bacana tê-las como família... mas, simplesmente "porque são muito velhas"... lésbicas, velhas e sozinhas, seria de fato a morte.
Achei o filme muito ruim, não recomendo. A quem queira vê-lo e me ajudar a entender diferente, fica o convite e o desafio... rsss.

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