sábado, 24 de abril de 2010

Alegoria do Tempo e da Saudade

Foto: Arquivo pessoal / Praia de Moreré/Ilha de Boipeba/BA/2009


Assim acontece...

Um movimento...

Um som, uma imagem, num tempo...

Tudo se encontra, o som, a imagem, neste tempo, conjugados.

Um encontro. Nem se percebem...

Uma memória, uma sensação, uma pessoa, um sentimento...

Sabores, odores, valores... tudo junto e misturado.

Um brilho, uma temperatura, uma estação.

Um lugar, um olhar, um espaço, novos sons.

A confluência de tudo isso.

Os momentos são únicos, singulares.

Alguns mais únicos, inesquecíveis, prediletos...

Naquele momento, aqueles sons, aqueles odores.

Sabores se estranham... seu fim está próximo

A memória lhe anuncia, e já são, outras sensações, outras emoções...

Os gemidos aparecem, as dores, os temores.

Num instante... morreu o tempo e nasceu a saudade.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Mary e Max

Mary e Max - Uma Amizade Diferente, é uma animação australiana, com arzinho de sessão da tarde, mas que é potencialmente arrebatadora. Dá conta de nos arrancar deste lugar comum das nossas indiferenças cotidianas quanto aos valores infinitamente fundamentais para nossa existência. Qual é o sentido da vida?, qual é a lógica da existência?, o que é o certo?, o que é o bonito?, o que é o caos? questões absolutamente profundas, apresentadas de um jeito leve, mas não menos intenso e significativo. A amizade vivida e refletida do ponto de vista de pessoas que estão à margem: a criança feia e sem amigos, o homem autista, gordo e judeu... em comum, a solidão. A música encanta, a animação envolve, com risos sinceros e o inevitável choro no final... leve muitos lencinhos. Não somos melhores que Mary e que Max, que história humana... humana, porque às vezes deixamos de sê-lo, de viver esta humanidade, do ser que sofre, que respeita, que ama, que sente saudades, que sente raiva, que supera limites (essa cena é lindíssima), que é rejeitado, abandonado, desprezado, mas que consegue encontrar no outro a si mesmo. Impossível não se encontrar também nestes personagens, que retratam nesta história real, o que de mais puro temos perdido nas nossas relações... bem, assiste lá e descubra.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Pecado da Carne

Judeu ortodoxo é discriminado por estreitar amizade com jovem estudante... acho que isso resume bem esta trama. Uma história que se desenvolve sem muitos rodeios, quando menos esperamos estamos lidando com as dúvidas e os desejos de Aarão.

Curioso lembrar deste Aarão e do Aarão bíblico, tão judeu quanto o outro, rendeu-se aos apelos do povo, mas neste caso, para manter sua "heterosocialidade" (expressão inaugurada com minha ex-futura-amiga... rssss).

Por certo, e neste caso não tenho dúvida, as escolhas se decifram por ganhos e perdas. Como comentamos no final do filme, muito diferente dos enlatados americanos, este não tem final feliz... mas será???
Quem tem que ser feliz afinal, com quem, como, prá quem... o somos sob tantas perspectivas que é arbitrário alegar que não houve final feliz. Talvez não quanto ao que definimos como o melhor final, mas vivemos os mesmos dilemas e fazemos nossas escolhas diárias, ou mesmo ao atribuímos-nas a outros, já escolhemos.
Ezri, o estudante, nos arranca alguns suspiros, e o enredo todo um tanto de angustia.
Prá finalizar, e falando ainda de Ezri, penso num comentário comum e curioso, sobre este "nosso" ponto de vista "heterosocial", que costuma lamentar um homem ou mulher bonitos serem gays, e ouvindo uma frase assim hoje sobre um cantor, eu respondi, então eu lamento duas vezes por ele ser gay, e eu não ser homem.
O filme é uma sugestão interessante, e como filme de conceitos, uma companhia para bons comentários vai super bem (eu tive...).

Homossexualidade leva à pedofilia, diz igreja

Ivan Alvarado/Reuters

O secretário-geral do Vaticano,Tarcisio Bertone, durante entrevista em Santiago; para ele, comportamento de padres é escandaloso

Número dois do Vaticano afirma que orientação sexual, e não o celibato, é a causa de abusos contra menores cometidos por padres. Afirmações vêm no mesmo dia em que Santa Sé divulga normas que incentivam que bispos denunciem suspeitos de prática à Justiça comum. (Folha de São Paulo, 13 de abril de 2010)

Os posicionamentos católicos (enquanto catédra que supõe e se impõe de todos saberes morais) tem historicamente, em seu corpo e conduta profundas incoerências com relação aos "fins" e aos "meios" do que chamam de sagrado.
Na leitura de Nilton Bonder, em "A Alma Imoral", este lugar ocupado por estes que se investem do caráter de "tentar manter o que já é", o sagrado establishment , se valem também do papel de inibir qualquer possibilidade de mudanças, de questões ditas como, "tradições".
Ora, seguindo em suas reflexões, Bonder, discorre quanto as tradições bíblicas rompidas (a traição à tradição) que inauguraram por si, um novo modelo de resgatador dos compromissos consigo... menos com o corpo, mais com a alma... o que em algum momento ele vem chamar de "bom" e "correto". Nessas traições pelo que é "bom" (alma) em detrimento do que é "correto" (corpo), o transgressor passa a ser altamente condenável, como se ele colocasse em risco a própria existência da humanidade, considerando que ele transgride o que é o establishment.
Bem, tudo isso prá dizer que, tais equívocos (e chamar todo o implícito cultural e histórico das tradições de equívoco sai barato) são previsíveis, inaceitáveis, mas previsíveis.
Esta Igreja ocupa este lugar de manter esta tradição e prá isso se valerá do que entender necessário prá que os seus "depositários de verdades" mantenham-se sem mácula e acima de qualquer suspeita... e prá isso, existem os hebreus, os judeus, os cristãos (seguidores do Cristo traidor do establishment, a tradição que esperava um Messias político, o filho ilegítimo), os homossexuais, e tantos outros.
Só uma reflexão... sem começo e sem fim.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Nos Embalos da Disco

Nunca fui muito fã do cinema francês, achava pouco atraente, com temáticas e produções desinteressantes, um ritmo manhoso, pouco emotivo... jusqu'à ce que (até que), fui apresentada a Amélie Poulain. Como não se apaixonar por este fabuloso destino, sem dúvida um dos melhores que já vi.
Bem, depois disso me despi de preconceitos e passei a me aventurar também neste universo francês.
Meu mais novo achado é esta comédia hilariante que consegue arrancar de nós um riso fácil e despreocupado. Nos Embalos da Disco é delicioso, se fosse uma comida, seria aquela que vem na hora certa, com o sabor desejado, se fosse um afeto, seria um beijo bem dado, numa pessoa querida, mas, como é só um filme, é aquele que vale a pena ser visto, com ou sem companhia... ele é bom de qualquer jeito.
É saudosista sem ser melancólico. Divertido, nos reporta a um tempo bom, seja ele qual for. A memória que o filme nos "recupera" é a melhor de 20 anos atrás... com o resgate dos anos 80, é curioso como as marcas musicais da época se mostram universais...
Ademais da diversão certa, o filme também emociona... ainda que na última cena... rssss.
Ótima pedida.

domingo, 11 de abril de 2010

A fábula dos macacos, das mulas e das bestas

Vimos, ouvimos e vivemos "coisas" o tempo todo, e lembrando um pouco daquela clássica imagem do trio de macacos, resolvi seguir por estas trilhas e refletir quanto ao que vimos, ouvimos e vivemos...
Nestas pesquisas que nunca sabemos se são verdadeiras de fato, encontrei o nome do trio de macacos:
Mazaru: Não falo maldade
Mizaru: Não vejo maldade
Mikazaru: Não escuto maldade

Num primeiro momento fico pensando "caraca, como posso ser pior que um macaco" (falei: pior que um macaco???) não!!! parafraseando o Robin (do casal Batman e Robin): "caracas triplas Batman, como posso ser pior que três macacos!!!" ou ainda, a bruxa para seu espelho: "espelho, espelho meu, existem macacos melhores do que eu??? Óhhhh existem, e são três!!!".
Mas, pensando no "melhor" da bruxa, prefiro de verdade o "pior", porque afinal é inevitável, falar maldades, ver maldades e escutar maldades, porque somos um tanto disso e partilhamos de momentos com outros, que o são também.
Sendo particular que, o único jeito de lidar com essas "maldades", seja pelo óbvio implícito neste fato de, vermos-falarmos-e-ouvirmos-nas, de um jeito ou de outro.
E é nesse "um jeito ou outro", que a vida tem me ensinado a sobreviver no mundo encantado dos macacos, das mulas e das bestas...
(um parênteses: me lembro no ginásio, quando um aluno após uma prova ruim auto denominou-se de "burro", e a professora, muito calmamente respondeu "não diga isso, afinal, o animal é bom e serve ao homem!!!"... portanto, "macacos, mulas e bestas" me desculpem, é só no sentido figurado... vocês de fato são bons e servem ao homem).

Acredito que uma das maiores virtudes humanas, é a nossa capacidade de transformar. Transformar aquilo que é supostamente "mau" em "bom", em conceitos aqui completamente destituídos do valor moral ou de sua preocupação. Talvez, numa compreensão mais ampla, de converter o propósito daquilo que nos toca com a intenção de ferir, em algo que nos sana completamente.
Bem, como isto está longe de ser um livro de auto-ajuda, concluo com a imagem que antecede este texto, o "copo meio cheio ou meio vazio"... prá mim, sempre meio cheio, e de preferência de um bom vinho tinto. Saúde, e vida longa aos macacos, as mulas e as bestas (os animais)!!!

sábado, 10 de abril de 2010

Alma Imoral (O Livro)

O texto de Nilton Bonder merecerá muitas postagens...
Cheguei num estágio da vida (kkkkkkkkk) que "pouco me importa" muitas coisas... com os livros "pouco me importa" absorver tudo de uma vez! Nada melhor que ler, sem o peso de ter que reter tudo... aliás, "tudo é sempre muita coisa".
Para hoje, vale pensar o "quão longe, quão perto" inspirado pelo escritor, e parafraseado para outros rumos por esta que vos escreve.
"Quão longe, quão perto" dos sonhos, da realidade.
"Quão longe, quão perto" dos amores, de todo descaso.
"Quão longe, quão perto" da conquista, do fracasso.
"Quão longe, quão perto" do hoje, do amanhã.
"Quão longe, quão perto"... ah!!! como eu quero estar!! de tudo que atrasa, do que mais me arrasa, ah!!! me deixa estar.
Me deixa, "quão longe, quão perto" desse odor de quase nada, desse mesmo que se repete... ah!!! sei lá.
Fazer valer "quão longe e quão perto" me custe tentar... assim será!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Prayers for Bobby


Hoje é um bom dia para falar disso...
O filme Prayers for Bobby (Orações para Bobby), apresenta uma discussão focada na homossexualidade de Bobby, mas que potencialmente, dá conta de promover muitas outras reflexões.
A indicação para assistí-lo é premissa...
Quero falar de uma cena que talvez passe para muitos, como mais uma!
O suicídio de Bobby (me desculpem os que ainda não viram, mas continua valendo a pena) é sem dúvida um mobilizador de emoções e reações, que redunda no geral, numa mudança de valores... até aí, nenhuma novidade.
O que não dá prá ignorar?... o ignorado.
A CENA: A acusação contra este Bobby que “ignorou” a dor dos seus, que não ligou para o seu irmão mais velho, que não deixou um bilhete, que não chamou... o Bobby que ignorou a todos. Claro, um bilhete faria diferença, um telefonema mudaria tudo... óh miserável Bobby!!!!
Ora, a dor de quem fica, traduz em quase nada a dor de quem foi (vai)... quantos bilhetes mais? Quantos telefonemas mais? Quantos mais? Quantos? Eles estavam lá... eles é que não estavam.
Insisto, quem não viu tente ver... mas veja-o despido de preconceitos, de verdades herdadas de outrora, veja-o com os olhos de Bobby.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Alma Imoral (A Peça)


Ultimamente tenho determinado alguns princípios e valores (literalmente $$$) na definição do que ver por aí:
por R$4,00 e a possibilidade de me divertir, vejo quase "qualquer coisa"
por R$8,00 sou mais criteriosa
por mais de R$15,00 o filme... OU a companhia tem que ser bons
por mais de R$25,00 o filme, E a companhia tem que ser muito bons... rssss
E assim, fui assistir a peça Alma Imoral, as indicações eram as melhores, e acompanhada de pessoas agradáveis. Paguei R$25,00... e acho que saiu barato, que peça!!!
Um monólogo, com a atriz Clarice Niskier, que é redentor! O texto inspirado no livro homônimo de Nilton Bonder (uma hora dessas falo do livro), é preciso como um bisturi nas mãos de um hábil cirurgião, explora temas como traição e tradição, transgressão, corpo e alma, moralidade, mortalidade, culpa, desejo, pecado... e Dna Léia (kkkkkkkkk)... a experiência de tudo isso, num corpo nu que flutua e floresce sobre o palco.
Como Clarice, saímos todos despidos deste encontro, seduzidos por cada palavra, serpenteados pelo desejo ardente de transgredir, de lançar-se no porvir quase sem pudor, com a anuência (e conivência) do sagrado... como fica leve.
Realmente algumas coisas não tem preço... e prá completar o combo de R$25,00, as companhias honraram meu investimento, e aos embalos de um bom vinho, divagamos sobre nossas almas imorais por algumas horas... indicadíssima (Teatro Eva Herz).

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Natividade


Toda Morte é precedida pela Vida. Esta é a lógica natural da existência... nascemos primeiro, morremos depois. Assim nasce este blog, com a única pretensão de morrer um dia. Mas, em meio a esse caos, surgem inúmeras possibilidades de ser, de existir, estar... diluir tudo (que é sempre muita coisa) em sabor agradável, indolor... então pois, assim será.
Que venham estas possibilidades, de refletir sobre tudo quanto não for possível ignorar. Com o único compromisso de não me comprometer com nada e com ninguém, sem metas, sem vestígio de ser, sem o acerto de acertar sempre.
Mas, venha...

Os Famosos e os Duendes da Morte

Antes de decidir por ver um filme, ler um livro, ir a um evento ou conhecer um(a) novo(a) amigo(a) (que nada, nem tanto!! rsss), vejo o nome e a apresentação dos mesmos. Certamente pelo título, pouco provavelmente iria ver este filme. Os Famosos e os Duendes da Morte é tudo, menos um filme sem sentidos, significados ou desinteressante. Fala de vida, de angústias, de desejo, de aceitação, de transgressão, de fuga, de morte... da pior das mortes (cada qual tem a sua). Já ouvimos diversas vezes alguém berrar nos nossos ouvidos "há uma luz no fim do túnel", nesta mesma trajetória, o menino sem nome (assim apresentado o protagonista da história - e portanto, este pode ser qualquer um, eu ou você) descobre que há uma luz no fim da "ponte". E acho que é isto que nos separa da vida e da morte, e do menino sem nome, uma ponte... a coragem que nos mantém na ponte, a força que nos move na ponte, o desejo e a atração que nos expulsa da ponte. O menino sem nome é um tanto de nós todos, mas quem pula também o é, e quem observa quem pulou, não menos. Sabemos ao final quem somos, quantos somos, porque somos, pra que somos, pra quem somos ou... prá quem desejamos ser. O relato talvez pareça mais intenso que o próprio filme... mas, nostalgias à parte, o filme vale boas reflexões. Veja, e tire suas próprias.